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Facebook, Google, Apple e Microsoft escutam nossas conversas privadas

21/08/2019 às 16:00
Tempo de leitura
6 min

Facebook, Google, Apple e Microsoft; sabe-se que cada uma dessas empresas captam dados pessoais dos usuários com frequência e utilizam essas informações de maneira inapropriada. Entretanto, não são somente textos e buscas pela internet que as gigantes da tecnologia coletam. Áudios e conversas que segundo a Lei de Proteção de Dados, deveriam estar protegidas, estão nas mãos de terceiros, que muitas vezes são contratados especificamente para escutar e transcrever as informações. Você sabe porque isso é feito e para onde vão nossos dados pessoais?

Recentemente, o Facebook confirmou que contrata centenas de funcionários terceirizados para transcrever áudios que usuários enviam no Messenger. Entretanto, após essa situação vir a tona, juntamente com escândalos envolvendo a Apple, Microsoft, Google e Amazon, a empresa disse que irá parar com a operação. Desse modo, a Microsoft também foi acusada de fazer o mesmo através do Skype, o Google foi acusado de transcrever áudios das assistentes digitais, assim como a Apple, através da Siri.

Escândalos

Todos os anos, inúmeros escândalos de privacidade, principalmente do Facebook, vêm a tona na mídia. Esses acontecimentos geralmente estão ligados ao vazamento de informações pessoais dos usuários. Há um ano, 50 milhões de americanos tiveram seus dados utilizados de forma irregular pelo Facebook e acessados pela empresa de consultoria Cambridge Analytica, e,  em outra ocasião, houve o vazamento de informações de 443 mil brasileiros.

Já o Google monitora milhares de áudios em diferentes idiomas, incluindo o português. É uma prática realizada a anos, como afirmam os funcionários que realizam as transcrições. De acordo com a multinacional, a transcrição e revisão das gravações é realizada para melhorar o funcionamento da assistente virtual da empresa, ou seja, para que o software seja capaz de entender melhor o que as pessoas dizem. A assistente de voz é utilizada muitas vezes para fazer pesquisas por voz, quando os usuários não querem procurar manualmente. Sendo assim, tudo que é falado para a assistente é ouvido pelo Google, dos áudios mais íntimos ao mais gerais. Conversas familiares, entre amigos, busca por pornografia, discussões e até sussurros são ouvidas e transcritas por terceirizados.

Assim como o Google, a Apple também está envolvida em escândalos desse tipo. Segundo a companhia, isto é feito para desenvolver a inteligência artificial e melhorar o rendimento dos softwares. Além disso, os áudios gerados, ouvidos e transcritos são armazenado por até dois anos. Mas muitas vezes, a empresa não controla o que os transcritores escutam, podendo expor conversas íntimas e conteúdos delicados sem que os usuários saibam, o que configura uma prática ilegal e antiética.

Denúncias publicadas na imprensa também atingiram a Microsoft. Assim como as outras empresas, a Microsoft possui empregados para ouvir mensagens de voz enviadas por meio de aplicações como o Skype, ou a assistente virtual Cortana, do Windows.

Sendo assim, a prática de coletar e colocar pessoas para ouvir e monitorar mensagens de áudio de usuários tem se tornado comum. Mas será que é realmente necessário fazer essas escutas para que as empresas possam melhorar seus serviços? Essa é uma longa discussão que deve ser abordada em todo o mundo.

Como as empresas usam os dados?

A maior parte das empresas vendem as informações pessoais para anunciantes. A princípio, o Facebook diz que eles só podem dividir com anunciantes as chamadas “informações públicas”. Entretanto, informações como  nome, fotos de perfil e a rede de amigos só podem ser, por padrão, públicas. Os anunciantes utilizam as informações para oferecer dezenas de propagandas direcionadas para as pessoas.

Os diversos dados não-estruturados, como posts em redes sociais, podem ser analisados e monitorados para gerar informações sobre o que os consumidores desejam, suas necessidades, insatisfações e preferências. Além disso, também há instituições, como o departamento de polícia da cidade de Los Angeles (LAPD), que se beneficiam da tecnologia para espionar e rastrear informações sobre infratores e criminosos. Já os áudios, se expostos a terceiros, podem causar uma infinidade de problemas, tanto para os usuários quanto para as empresas de tecnologia.

“Li e aceito os termos de uso”

Os dados coletados muitas vezes estão explícitos nos termos de uso das empresas, no entanto, não há como usar os serviços disponibilizados por elas sem aceitar os termos. O Facebook, que tem mais de dois bilhões de usuários em todo o mundo, possui termos duvidosos.

Além de fornecer dados a anunciantes, aplicativos vinculados a rede também podem usufruir dos dados, assim como a própria rede social tem direito de utilizar qualquer conteúdo publicado por usuários para fins próprios, não estipulados claramente nos termos de uso da rede. E mesmo que você leia os termos, eles são alterados constantemente. A rede também se isenta de qualquer dano que você possa ter ao usá-la: “Nós tentamos manter o Facebook atualizado, seguro e livre de erros, mas você o usa por sua conta e risco. Não garantimos que o Facebook ficará sempre seguro, protegido e sem erros”.

Segurança e regulamentação

Violar a privacidade dos usuários já rendeu multas bilionárias para essas empresas. Entretanto, na prática, o valor cobrado não faz muita diferença em relação ao quanto essas corporações lucram com os dados vendidos à anunciantes e terceiros. Em contrapartida, inúmeros países vêm adotando medidas de proteção e garantia da segurança de informações, o que demonstra uma preocupação global com a privacidade online dos internautas.

A União Europeia possui sua própria regulamentação acerca da proteção de dados online. O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR) é uma legislação sobre como as empresas devem tratar os dados privados de clientes. A empresa que descumprir essa regulamentação pode receber uma notificação ou até mesmo uma multa milionária.

No Brasil, há o Marco Civil da Internet, lei implementada em 2014 com o objetivo de tentar conter, entre outras coisas, a utilização de dados pessoais dos brasileiros para o marketing dirigido. Mas sigilo e privacidade é algo que está longe de se alcançar, principalmente em nosso país. Desse modo, o Marco Civil foi somente um ponta pé inicial para melhorar a segurança online.

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