Menu

Avanço na prevenção contra o HIV: conheça as opções PEP e PrEP

06/12/2019 às 21:44
Tempo de leitura
8 min
Os grupos de pessoas que estão mais vulneráveis a contrair o vírus HIV no Brasil, hoje, tem outras opções que podem substituir ou complementar na prevenção da doença para além do uso do preservativo. Canais estão sendo abertos através do Sistema Único de Saúde para que esses grupos aprendam a gerenciar essa questão.
 
As opções Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) e Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), embora ainda causem aversão em alguns profissionais na área da saúde, tem feito os números do vírus diminuírem em alguns países e têm sido testadas no Brasil.

O que é PEP?

A Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP) é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo vírus HIV, hepatites virais e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). A medicação consiste em reduzir riscos de adquirir essas infecções.

A PEP deve ser iniciada o mais precocemente possível, o ideal é que a pessoa em risco faça o uso do medicamento nas primeiras 2 horas após a exposição, tendo como limite 72 horas subsequentes à exposição. A duração da PEP é de 28 dias. O esquema preferencial para PEP é: Tenofovir (TDF) + Lamivudina (3TC) + Dolutegravir (DTG).

O que é PrEP?

A PrEP é um medicamento que pode ser administrado diariamente. Ele impede que o vírus causador da AIDS infecte o organismo antes da pessoa ter contato com o vírus.

São dois medicamento (tenofovir +entricitabina) que se unem formando um bloqueio em algumas vias que o HIV usa para infectar o organismo de uma pessoa.  Ou seja, quem toma a PrEP diariamente pode impedir que o HIV se estabeleça e se espalhe pelo seu corpo.

Uma atenção deve ser dada ao fato de quer a combinação só funciona se ingerida diariamente, do contrário pode não haver concentração suficiente do medicamento na corrente sanguínea para o bloqueio do vírus.

Quem pode tomar a PrEP?

De acordo com o Ministério da Saúde, a combinação PrEP é indicada para os grupos que possuem maior chance de contrair o HIV, são eles:

– Trabalhadores (as) do sexo;
– Pessoas que frequentemente deixa de usar camisinha em suas relações sexuais (anais e vaginais);
–  Pessoas que tem relações sexuais, sem preservativo, com alguém que seja HIV positivo e que não esteja em tratamento;
– Apresenta episódios frequentes de Infecções Sexualmente Transmissíveis;
– Faz uso repetido da PEP;
– Entre outros.

Por onde começar?

Segundo o médico infectologista Ricardo Vasconcelos, popularmente conhecido como Rico e conhecido por estar sempre estudando o assunto, a escolha de iniciar o uso da PrEP deve ser feita de forma racional. “A gente tentou trabalhar a questão da prevenção ao HIV de maneira a controlar a vida sexual da pessoa, dizendo pra ela como que ela tinha que fazer para não se infectar”, explica Rico. Porém, através dos números, percebemos que essa medida não evita que o vírus se espalhe. “Você tentar dizer pra pessoa ‘use camisinha, todas as vezes, com todos os parceiros do começo ao fim, em toda a sua vida sexual’ é quase um estupro pra pessoa, é como dizer “eu vou dizer como você deve transar'”, completa o médico ao canal Drauzio Varella.

“A maneira mais atual que a gente enxerga de como vai funcionar a prevenção do HIV, é o que chamamos aqui no Brasil de Prevenção Combinada, consideramos que a melhor estratégia de prevenção contra o HIV, é aquela que indivíduo escolhe, entende como funciona e é capaz de usar de maneira correta e de maneira constante”.

Ou seja, o primeiro passo é decidir de forma consciente e não imposta, de como se prevenir contra o HIV. Depois disso, a pessoa deve ter conscienciosa de que no Brasil a “Prevenção Combinada” que inclui a PrEP no SUS foi implementada desde o final de 2017, inclusive o Ministério da Saúde disponibilizou um site específico para que as pessoas saibam os lugares onde ocorrem a dispensação dos medicamentos e maiores informações sobre o uso: www.ainds.gov.br.

Números

O Ministério da Saúde publicou o resultado de uma pesquisa em março deste ano. Os números apontam que atualmente, estima-se que 866 mil pessoas vivam com o vírus HIV no Brasil.

Como resultado de todas as estratégias adotadas, o Brasil chegou aos 30 anos de luta contra o HIV com queda no número de óbitos por AIDS no país. Segundo o último boletim epidemiológico, em quatro anos a taxa de mortalidade pela doença passou de 5,7 por 100 mil habitantes, em 2014, para 4,8 óbitos, em 2017. A garantia do tratamento para todos (lançada em 2013 ) e a melhoria do diagnóstico contribuíram para a queda, além da ampliação do acesso à testagem e a redução do tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento.

Estigmatização da PrEP

Ao se discutir sobre a PrEP, outras questões importantes precisam ser esclarecidas, o abandono do preservativo por exemplo, ele de fato abre o caminho para que outras doenças sexualmente transmissíveis se propagem? “Por mais que a gente fale de PrEP de forma otimista, a reação  automática de alguém que acaba de saber o que é PrEP, muitas vezes, se não na maioria das vezes é negativa. Por exemplo, uma coisa que vem muito na cabeça, principalmente do profissional de saúde, que é o fado de que como um comprimido que protege o HIV em pessoas vulneráveis poderia fazer com que a pessoa relaxasse no pouco que usava de camisinha. Tecnicamente falando, isso se chama “Compensação de Risco”. A Compensação de Risco seria a pessoa ter uma desinibição dos comportamentos de vulnerabilidade pelo fato de estar usando uma estratégia de prevenção contra o HIV especificamente. É como um motorista que deixa de usar sinto de segurança pelo fato de haver um air bag no carro. Se ocorresse muita compensação de risco a PrEP seria um tiro no pé. Essa foi uma preocupação desde o inicio. E, o PrEP Brasil avaliou se havia ou não compensações de risco entre os usuários do PrEP aqui, e o que foi verificado foi que, não. Não existe o abandono de camisinha, não existe o aumento das DSTs, e curiosamente, o número de parceiros diminui ao longo do tempo”, responde o Rico sobre.

O infectologista acredita que o efeito é o contrário do que muitos pensam, pois uma vez que uma pessoa vulnerável ao HIV procura atendimento para o uso da PrEP, ela passa a ser acompanhada pelo menos de três em três meses, e esse acompanhamento gera um diálogo, maior informação e consequentemente, tomando consciência dos riscos, essa pessoa passa a se prevenir mais.

Ele também faz críticas severas à imprensa que constrói uma imagem de PrEP em cima de algo estigmatizado: “não precisamos de mais estigmas”, finalizou Rico.

Diferença entre AIDS e HIV

Ao contrário do que muitos pensam, AIDS e HIV não são a mesma coisa.

HIV é a sigla, em inglês, para o vírus causador da doença AIDS. Ele ataca o sistema imunológico e afeta a capacidade do organismo se defender, alterando o DNA das células de defesa. O vírus HIV copia a si mesmo e se multiplica no organismo, espalhando-se pelo corpo.

Nem todas as pessoas que contraem o vírus HIV desenvolvam a doença AIDS.

A AIDS caracteriza a doença causada pelo HIV, os principais sintomas são: dores no abdômen, fadiga, febre, mal estar, tosse seca, perda de apetite, suor noturno, problemas gastrintestinais, perda de peso, fraqueza, língua branca ou úlceras, erupções na pele ou pústulas, dores ou inchaço da região genital, bem como inchaço dos gânglios e doenças oportunistas , como pneumonias ou sapinho, por exemplo.

Informação

A Netflix lançou recentemente um documentário impactante para a história da AIDS no Brasil, o “Carta Para Além dos Muros”. Nele, portadores da doença que sobreviveram nas décadas de 80 e 90, quando ela ainda estava sendo descoberta, contam sobre suas experiências físicas, e o sofrimento da carga de preconceito que o vírus trouxe e traz consigo. Médicos dão o parecer patológico, inclusive sobre a evolução dos tratamentos.

COMENTÁRIOS