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Setembro Amarelo: depressão e ansiedade não existem só em setembro

04/09/2019 às 20:00
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12 min

O Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio que acontece todos os anos em setembro, desde que foi criada, em 2015, por uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria. Nesse mês, várias ações são criadas e diversas pessoas se mobilizam para falar sobre a depressão, a ansiedade e o suicídio. Durante o mês de setembro, vemos nas redes sociais, imagens e frases de apoio a pessoas que sofrem dessas condições. Porém, durante o resto do ano, pouco é falado sobre o assunto, principalmente entre pessoas de mesmo convívio. E o quanto isso é perigoso? O que podemos fazer, de fato, quanto a isso?

Temos a tendência a imaginar que esse tipo de situação nunca acontece ou acontecerá perto de nós, até que seja tarde demais. Os sintomas são ignorados, algumas vezes por falta de conhecimento, e outras, por não acreditarem na seriedade do problema. Existem pessoas que afirmam que depressão e suicídio são causados por fatores que estão “no controle” da vítima (como falta de força de vontade ou falta de Deus), ignorando o fato de ser uma doença como outra qualquer. Inclusive, podendo ser até mais grave que muitas.

Essas pessoas que sofrem estão ao nosso lado no dia a dia. E, mesmo que sutis, elas dão sinais. A questão é que, uma pessoa com depressão, muitas vezes, não consegue pedir ajuda por mil motivos. Ou, ainda, há aquelas que conseguem pedir, mas que não são ouvidas. Por isso, é muito importante conhecer mais sobre a depressão e a ansiedade para você conseguir ajudar.

Ansiedade

A ansiedade, em determinado nível, é um sentimento normal do ser humano. É o que nos protege de situações de perigo e o que nos alerta que algo está errado, entre outros. O problema começa quando esse nível de ansiedade ultrapassa o normal, fazendo que com vários sintomas ocorram no nosso corpo sem motivo aparente.

Por exemplo, quando temos uma reunião importante, ou quando passamos por alguma situação de medo, é normal que nosso coração acelere, ou que nossa respiração fique ofegante. E esses sintomas passam junto com a situação que o está causando. Já a ansiedade não-saudável, é aquela que causa esses mesmos sintomas, entretanto, sem motivos. Nada está acontecendo, mas mesmo assim, seu coração acelera, você sua, sua respiração fica descompassada. E a única coisa que seu cérebro consegue fazer, é de avisar que algo está errado. Porém, você olha para os lados, e não há nada de errado. Mas, mesmo assim, começa a criar milhões de mecanismos de defesa para lidar com esse problema, que muitas das vezes, nem existe. “Quando nos preocupamos com algo que pode vir a acontecer, tomamos uma série de medidas para resolver previamente aquela situação”, diz o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com o tempo, essa situação vai ficando incontrolável e começa a afetar todos os aspectos da sua vida. Sair de casa começa a ser difícil. Fazer tarefas diárias, por mais simples que sejam, viram um sofrimento. A pessoa não consegue se concentrar, já que fica muito mais focada em problemas do futuro ou em seus pensamentos. Parece muito mais fácil ficar em casa e não ter que lidar com tudo o que pode causar as crises de ansiedade. Com isso, a qualidade de vida cai drasticamente, fazendo com que a pessoa com ansiedade se isole, se sinta culpada por não conseguir fazer coisas simples, entre outros sentimentos.

Além disso, a ansiedade possui vários tipos:

Fobia social

Medo exagerado de participar de eventos ou situações que tenham muitas pessoas desconhecidas onde a pessoa terá que socializar. O grande medo é de ser avaliado, julgado, ridicularizado ou criticado por essas pessoas. Falar em público é um grande motivo para desencadear as crises ansiosas.

Fobia

Medo de objetos, animais ou situações específicas. Exemplo: medo de carros, cobras ou altura. Esse medo excessivo pode vir de uma experiência real ou por um pensamento ou notícia marcante sobre o assunto. Existem mais de 500 versões de fobia conhecidas.

Ataque de pânico

Completamente do nada, sem nenhum motivo aparente, o indivíduo pensa que vai morrer, já que o coração dispara, começam a ter tremores, náuseas e vômitos. A pessoa corre para o hospital pensando que está realmente morrendo, por algum infarto ou algo do tipo. Após algum tempo, esses sintomas passam e a pessoa volta ao normal.

Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

A pessoa tem a sensação constante e muito incômoda de que algo vai dar errado a qualquer momento e que sua vida vai mudar completamente quando ela menos esperar. Por isso, ela fica alerta o tempo todo, com preocupações excessivas, supervalorizando os problemas e com dificuldades de encontrar soluções para eles.

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

São pensamentos invasivos que são aliviados após a pessoa realizar algum comportamento padrão, muitas vezes sem sentido lógico. Por exemplo: a pessoa lava a mão o tempo todo, ou tem mania de abrir e fechar a porta ou então algo ruim vai acontecer.

Estresse pós-traumático

Esse transtorno acontece frequentemente com soldados ao voltarem da guerra, vítimas de acidentes ou desastres naturais. Ele faz com que a pessoa não consiga esquecer o episódio traumático e ele fique voltando à sua mente como flashbacks. Quando surgem essas memórias, a pessoa tem insônia, irritabilidade e pânico.

Números da ansiedade

Esse transtorno atinge 264 milhões de indivíduos no planeta terra, sendo 18 milhões no Brasil, que é onde a maior parte da população é afetada, com 9,3%. No Paraguai, a taxa é a segunda maior, com 7,6%. Na Europa, a Noruega tem 7,4% e a Holanda 6,4%.

Para saber se você sofre de ansiedade, o recomendado é procurar um psicólogo ou psiquiatra, que são especialistas que podem dar um diagnóstico real.

É importante pontuar que a ansiedade é uma doença grave e que pode desencadear a depressão. A estimativa é que, cinco pacientes com depressão tiveram ansiedade no início.

Saiba mais detalhes sobre a ansiedade.

Depressão

Cientificamente, a depressão é definida como “uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite”.

É importante saber distinguir a depressão da tristeza normal. Diante de problemas da vida que todos podem ou vão passar um dia, como a morte de um ente querido, a perda de um emprego, uma mudança radical de vida, problemas financeiros etc, as pessoas ficam tristes, em luto e sofrimento. Porém, o normal, é que esses sentimentos durem cerca de 15 dias.

Já quando existe o quadro depressivo, esse sentimento de triste e angústia nunca passa. São persistentes todos os dias, por muito tempo. Junto com esses sentimentos, se perde o interesse em atividades que antes davam prazer e a pessoa sente que perdeu o sentido da vida.

Cerca de 350 milhões de pessoas sofrem dessa doença ao redor do mundo. A intensidade e a duração da depressão varia de pessoa pra pessoa, podendo ser leve, moderada ou grave. Crianças e adolescentes também podem sofrer de quadros depressivos.

Alguns sintomas da depressão

Além dos sintomas já citados, como a tristeza profunda e a falta de prazer em realizar atividades, também existem outros sintomas:

  • irritabilidade, ansiedade e angústia;
  • desânimo, cansaço fácil, necessidade de maior esforço para fazer as coisas;
  • diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer ;
  • desinteresse, falta de motivação e apatia;
  • sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero e desamparo;
  • pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa auto-estima;
  • sensação, inutilidade, ruína e fracasso;
  • interpretação distorcida e negativa da realidade;
  • dificuldade de concentração, raciocínio mais lento e esquecimento;
  • diminuição do desempenho sexual;
  • perda ou aumento do apetite e do peso;
  • insônia ou despertar matinal precoce;
  • dores e outros sintomas físicos não justificados por problemas médicos;

No início os sinais podem passar despercebidos. Mas, esses sintomas, junto com ideias suicidas ou de automutilação/destruição, são um grande alerta.

Frases e atitudes que depressivos dizem e você deve ficar alerta

Pessoas com quadro depressivo, normalmente deixam alguns sinais, e é importante prestar atenção a eles. Elas também dizem algumas frases características, como por exemplo: Eu quero morrer / Eu não aguento mais / Não vejo mais sentido na vida. Veja alguns sinais de alerta:

O que não falar para alguém que sofre de depressão

Às vezes, coisas que falamos, talvez até com intenção de ajudar, podem piorar drasticamente a situação da pessoa. “Expressões que diminuem o que a pessoa sente como ‘isso não é nada’, ‘tem gente em situação pior’ ou fazer que se sinta ainda mais culpada, como ‘foi você quem procurou isso’, devem ser evitadas porque esse é um momento em que o paciente precisa de acolhimento e não de repreensão”, explica a psicóloga Elaine Di Sarno, especialista em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (IPq-HC). Veja exemplos do que não dizer:

– “Sua vida é melhor do que a de muita gente”: Não existe disputa para saber quem sofre mais do que o outro. A sensação de desesperança é individual e intransferível.

– “Pense positivo”: Só a positividade não é capaz de motivar o indivíduo na busca por sobrevivência. Apenas não diga isso.

– “Se você confiar em Deus, você cair na real”: A religiosidade pode ter importância na vida de algumas pessoas, mas isso não é unanimidade. Pense que o sofrimento está além da espiritualidade.

– “Mas por que você está pensando em se matar?”: Essa frase, dita em tom ‘especulativo’, pode estar carregada de julgamento e ser devastadora para quem se sente na obrigação de dar explicações, mesmo sem ter um motivo aparente para pensar em suicídio. No lugar, prefira perguntar: “Você gostaria de falar mais sobre isso?”, em tom acolhedor.

– “Por que você vai se matar por causa dele (a)? Não vale à pena”: Essas duas sentenças, embora pareçam desprezar o que seria o motivo do sofrimento, fazem com que a pessoa tenha o sentimento desvalorizado.

– “Eu conheço muita gente que pensa em se matar também, mas não faz nada”: Esse é o conhecido mito de que “quem quer se matar, não avisa”. Especialista são unânimes em avaliar que o indivíduo em sofrimento distribui sinais de que pensa em suicídio. Cabe a sociedade aprender a identifica para ajudar.

– “Eu também já pensei em suicídio, mas eu sou uma pessoa forte e consegui superar”: Dizer que você é forte e que, por isso, superou o pensamento suicida não contribui para aliviar o sofrimento alheio.

– “Quem pensa em suicídio tem a mente fraca”: Não existe “mente fraca” ou “mente forte”. Cada indivíduo enfrenta problemas emocionais de maneira peculiar. Não julgue.

Saiba como ajudar

Conviver e lidar com alguém com depressão também não é nada fácil. Quem se preocupa com alguém depressivo e tenta de tudo para ajudar, acaba lidando com o medo, a impotência, incompreensão, a frustração e várias dúvidas. Além disso, também existe o preconceito de nossa parte. Sim, por mais que tenhamos boa intenção de ajudar, quem não sofre com a doença, acaba tendo um certo preconceito em alguns momentos. Não por maldade, ou por falta de amor, mas por não entender completamente o que a pessoa passa. Por muito tempo, ouvimos que depressão não existe, que é frescura, que só sofre porque quer, etc.

Mas é importante ter em mente que a pessoa precisa de ajuda, e pequenas atitudes podem salvá-la. Amor e apoio fazem milagre. Veja algumas dicas:

  • Procure conhecer sobre depressão, como ela ocorre e como é o tratamento;
  • Estimule a pessoa a realizar tarefas e passeios, mesmo que pequenos. É necessário se manter ativo;
  •  Não o cobre ou culpe quando não conseguir, estimule-o lembrando das vezes em que conseguiu;
  • Para argumentar, use de fatos, acontecimentos reais, será mais fácil para ele aceitar;
  • Lembre-se: depressão não é uma escolha!
  • Estimule e valorize tratamento psicológico e psiquiátrico, de acordo com indicação profissional;
  • Se estiver muito difícil, busque apoio profissional para você também. Sua saúde mental também não deve ser deixada de lado para ajudar alguém.

O principal de tudo, é ajudar a pessoa a procurar tratamento médico. Sozinho, sem acompanhamento profissional, fica ainda mais difícil sair dessa situação. Por mais que outras coisas contribuam muito, é de extrema importância a pessoa ser cuidado por quem realmente entende sobre a doença.

Centro de Valorização da Vida (CVV) – Ligue 188

O CVV, Centro de Valorização da Vida, realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

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Última atualização em 08/10/2021 às 07:49