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A história da conferência que virou pré-conferência

16/03/2020 às 11:15
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4 min

Ouro Preto é uma cidade ímpar, realmente impressiona as coisas que acontecem nesse município, muitas vezes, ao saber das narrativas, alguns acham que o interlocutor é mentiroso, haja vista tamanhas e curiosas situações que aqui ocorrem.

A última das novidades é a história da conferência que virou pré-conferência, faz sentido? Não parece, mas no fim das contas faz sentido sim, e muito! E isso que é o mais impressionante!

A necessidade de se realizar a conferência das cidades é um marco que ocorre de dez em dez anos em qualquer município, sendo obrigatório por lei. Como muitos gestores gostam de deixar para o seu sucessor a responsabilidade de construir este evento, é comum vermos a absurda situação da tal conferência estar vencida, ou seja, estar a mais de dez anos sem acontecer e com possibilidade de todos os prefeitos do período terem que responder na justiça pela sua não realização.

Para fugir de uma possível ação judicial, muitos locais estão tendo que fazer às pressas a sua conferência, sendo exemplos disso Mariana e, claro, Ouro Preto. É triste imaginar que entre tanta coisa boa que aqui temos, nosso destaque se dê para ações negativas, como ter que construir na correria um acontecimento desse porte.

Alguns novos secretários que adentram a atual gestão ouro-pretana trouxeram como pauta a realização da Conferência das Cidades. Até aí tudo bem, isso é ótimo, mas o problema é: como realizar de modo democrático tal evento? A falta de experiência na gestão participativa das cidades é um ponto importante a debatermos, afinal quem não está habituado em fazer isso, tende a ter problemas quando resolve tentar fazer.

E é exatamente isso que observamos no último dia 07-03. Graças a desorganização da gestão, vimos uma surreal chamada de conferência sem pré-conferências nos bairros e distritos, não tendo debates, nem aprovação de propostas e, obviamente, muito menos eleição de delegados. Ou seja: realizar o marco final antes do pontapé inicial. Faz sentido? É claro que não!

Ao perceber o tamanho do “vacilo”, obviamente após alerta das entidades populares, observamos a risível passagem da 8ª Conferência para Pré-Conferência da Cidade em plena abertura dos trabalhos, antes inclusive da leitura do regimento, algo que não também ocorreu, afinal o regimento não havia sido preparado! Surreal!

Se a ideia de alguns, em especial de empresários e setores conservadores, era aprovar de qualquer jeito o evento, houve uma enorme surpresa com a alta participação popular, em especial de três coletivos: Outro Preto, Ocupação Chico Rei e Movimento 65, que com suas respectivas teses protagonizaram a conferência nivelando por cima as discussões e derrubando a ideia antidemocrática original, ou seja: se é para debater, vamos debater, mas com participação popular!

E assim foi feito: ao se dividirem os grupos de discussão (GDs) para o diálogo de propostas (que infelizmente serão apenas sugestões aos responsáveis pelo documento base, já que não haviam delegados eleitos para votar), a sociedade civil organizada deu show: aprovaram ideias progressistas de gestão participativa em todos os GDs, deixando a plutocracia local, literalmente com o cabelo em pé, alguns até mesmo abandonaram o local tamanha a surpresa ao perceber que o povo ouro-pretano não é bobo.

E assim se encerrou a conferência que virou pré-conferência, se não era para ter participação popular, os movimentos sociais mostraram como é que a banda toca e a partir de agora terão que ter assento para decidir em conjunto, poder público, sociedade e iniciativa privada como se constrói, de verdade um evento participativo: com pré conferências de verdade (em cada bairro e distrito), com eleição de delegados, regimento, documento base e aprovação de propostas, afinal de contas, estamos no século XXI e a ideia do cabresto já ficou pra trás, é hora de ouvir as demandas dos verdadeiros patrões: o povo.

Até a próxima.

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